quinta-feira, 11 de agosto de 2011

CENA 6


A noite já havia avançado bastante, aquela que brilhava absoluta estava em sua fase cheia, e como o céu não possuía uma nuvem sequer, o local encontrava-se bem iluminado. O ambiente era formado por um imenso planalto a perder-se de vista, apresentava uma vegetação arbórea bem escassa e poucas elevações no terreno coberto por uma relva bastante uniforme.

Em uma das elevações alguém se encontrava a contemplar o horizonte. Esse passava a impressão de estar bem concentrado em algum objetivo que apenas ele deveria ter conhecimento, era uma pessoa alta, tinha o corpo coberto por um espesso manto negro, na cabeça um capuz que tornava impossível ver o menor traço de seu rosto. No angustiante silêncio da noite, quebrado algumas poucas vezes por um fraco vento que soprava rumo ao norte, ele permanecia imóvel.

Eis que de repente uma nova presença começa a surgir no local. Em passos cadenciados esse novo ser dá indícios de caminhar na direção em que se encontra o primeiro. Uma espécie de neblina na cor púrpura parece acompanhar aquele que aos poucos se aproximava. Também coberto por um manto negro, esse se distinguia por carregar uma imensa arma, uma foice decorada em ricos detalhes, e por trazer um ambiente de conflito, desespero e dor, por onde ele passava a vegetação murchava e em poucos segundos aparentava nunca ter tido vida.

- Discreto como uma explosão de cosmos. – Manifestou-se o primeiro.

- Ora Pequeno Príncipe... – Ao começar a responder fora interrompido.

- Tens razão, és a Morte, tudo de que não necessitas é de descrição. Afinal qual seria o seu propósito senão o de despertar os piores medos naqueles para os quais apareces.

- Como de costume, sempre à frente. – Enquanto dizia essas palavras fez uma espécie de reverência para depois continuar – Sabendo ser impossível aproximar-se de ti sem ser notado, não há motivos para que eu tente.

- Esforço desnecessário. – Disse ainda sem se mexer – Posso sentir sua presença onde quer que estejas.

- Não poderia ser de outra maneira Jovem Príncipe, afinal tantos séculos caminhando juntos... – Com a frase sem terminar, aquele que deteve sua caminhada põem-se novamente em movimento.

Confiante em seu movimento antes uniforme tem agora seus passos detidos a poucos metros daquele que almeja, por uma barreira invisível, mostrava-se surpreso ao passo que também dava indícios de já esperar por tal atitude. Com o choque, parte de seu rosto ficou a vista mostrando que havia apenas ossos. Arrumando o capuz sobre o rosto cadavérico, estendeu a mão esquelética até a barreira, esta respondia a proximidade do ser e tornava-se visível quando por ele tocada. Se a Morte tivesse uma face poderia ser dito que ela esboçara algo como um sorriso.

- Novamente devo dizer que não perdeste o costume.

- O que desejas Morte? – Indagou dando a entender que não desejava continuar o assunto.

- Ver-te é claro. – Respondeu com extrema rapidez – Por ser um valoroso companheiro, senti sua ausência durante esses anos. Resolveu aposentar-se?

- Nunca foste um companheiro. – Disse ignorando a pergunta.

- Não me consideras? – Perguntou fazendo questão de demonstrar surpresa e imitar quem o ouvia. – Através da busca de sua derrota muitos tentaram alcançar a glória, valorosos guerreiros caíram frente a ti. Buscando incansavelmente esse objetivo só puderam no final encontrar a mim, devo agradecer-te por isso.

- Não há glória em tal ato. – Sua voz saiu quase como um sussurro.

- Como não? – Levantou a voz – Não percebes? Derrotar-te seria alcançar a glória eterna. – Disse levantando a cabeça e abrindo os braços. – O dono de tal feito seria reconhecido e exaltado para todo o sempre. – Após o término da frase o som das palavras deu lugar a uma gargalhada diabólica, lançando um terrível olhar continuou. – E com isso me daria o maior dos presentes.

- O que realmente desejas? – Perguntou com um tom de voz mais ríspido. – Vieste tentar o que tantos outros não conseguiram? – Como se a desafiasse perguntou virando-se pela primeira vez.

- Não Pequeno Príncipe, não me entenda mal. Não foi esse o meu objetivo. Julgo não ter expressado corretamente minhas verdadeiras intenções. O motivo de minha visita não é outro senão de cortesia.

Pela primeira vez em toda a conversa a Morte agora ficara apreensiva, finalmente tinha conseguido a total atenção daquele a quem se dirigia, mas definitivamente não esperava de forma alguma por essa reação. Talvez a distância e o tempo fizeram com que o seu julgamento da possível situação fosse prejudicado.

- Peço-te desculpas pelo meu comportamento Jovem Príncipe. Confesso que me exaltei e com isso acabei lhe atrapalhando, tal ato não voltará a ocorrer. Com sua licença. – Terminando seus dizeres começa a se afastar.

A Morte que se afastara um pouco faz uma breve reverência antes de dar as costas para o homem que não mais olhava em sua direção. Sabia bem que jamais deveria se indispor com aquele que antes a encarava. Afinal alguém que deixava até mesmo os Deuses preocupados merecia o total respeito de todos, ainda mais daquela que por diversos motivos sempre o acompanhou.

Lord Marshall