domingo, 22 de maio de 2011

CENA 3


Andando pela faculdade lembrei-me de que fora incumbido de uma importante missão, “plastificar a carteira do transporte escolar da minha irmã.” – Que coisa não? – Pois é. – Por que ela mesma não faz isso? – Também gostaria de saber. Mas por outro lado, isso também serviria de pretexto para que eu fosse ao centro de convivência. – Na cantina e/ou xerox, você quer dizer. – Sim, o lugar também atende por esses nomes. – Pois bem, continue. – Apenas a possibilidade de talvez vê-la animava-me bastante. Chamei então um colega que por ali estava:

- Vamos ao centro de convivência comigo, preciso deixar a carteirinha da minha irmã para que seja plastificada.

- Tudo bem, mas teremos de passar pelo bloco do Direito, vou aproveitar para beber água.

- Também havia pensado nisso.

Com a reforma de alguns blocos não sobraram muitas opções para bebedouro, apenas o bloco de Direito e a biblioteca. – Digamos que só as piores. – Os outros eram bem distantes. Enfrentávamos agora um impasse, já que os lugares que frequentávamos, há dois anos, estavam temporariamente indisponíveis. – Mas até que o bloco de Direito é legal. – Talvez, mas as pessoas que ali estudam são muito frescas. Um tempo pensando nisso e fui chamado de volta à realidade, um senhor havia entrado na minha frente e por pouco não me jogou contra a parede. – Com toda a certeza educação não constava na grade horária dele.

- Que é isso rapaz? Atropelado por um tiozinho? – Disse meu colega sorrindo.

- Pois é.

- Mas também ao invés de beber água você fica viajando, não temos a noite toda. – Disse novamente sorrindo.

- Tudo bem, da próxima vez eu peço desculpas. – Depois de alguns passos concluí – É sério, se não fosse pelas meninas do Direito eu nem passava perto desse pavilhão.

- Só você mesmo. – Dizia enquanto balançava negativamente a cabeça.

No resto do caminho fiquei em silêncio, como se estivesse procurando, e uma vez ou outra ouvia uma frase sobre as aulas dele. – Que na verdade nem ao menos deu importância. – Estava ocupado. – Sei. – Chegando ao nosso destino notei que a xerox estava cheia, bem cheia, desanimei.

- Parece que está um pouco cheio, não acha?

- Sério? – Respondi. – Se não dissesse jamais descobriria.

Não era apenas a xerox, todas as mesas estavam ocupadas também. – Vai me dizer que estava preocupado com as mesas. – Lógico que não, para mim só importava uma coisa, encontrá-la no meio daquela multidão. Como de costume não tive que procurar muito, ela estava sentada juntamente com outras três amigas da mesma cidade. – É incrível a facilidade que você tem quanto a isso. – Quando procuro por alguém não importa a multidão, se ela ali está, com toda a certeza eu a encontrarei.

- Você não vai pedir para plastificar a carteirinha? – Indagou meu colega.

- Eu pegar fila? Prefiro entregá-la do jeito que peguei. – Respondi sem desviar o olhar.

- Então vamos sair daqui. Ficar parado nesse local é algo idiota.

- Mas eu tinha que plastificar isso. – Foi o que encontrei para dizer naquele momento.

Meu colega até que poderia estar certo, mas onde estávamos era praticamente de frente para a mesa dela, a visão era perfeita. – Você ficou como um bobo parado ali. – A verdade é que eu não sabia o que fazer perante tamanha beleza. Entre enfrentar uma fila enorme e ficar admirando uma beleza sem igual, acho que a resposta seria bem óbvia. – Claro, se ele soubesse suas reais intenções. – Se Deus realmente cria-nos um a um, com absoluta certeza ele investiu bem mais tempo para criá-la, retoques perfeitos.

- E então? Decidiu o que vai fazer? – Novamente meu colega me tirava de meus devaneios.

- Rapaz. – Disse decidindo mostrá-la a ele e me aproximando da xerox. – Olha aquela moça ali na frente, a de blusa rosa, ela é muito linda.

- Já tinha visto ela.

Por alguns segundos fiquei sem reação. – Como assim já tinha visto ela? – Jamais esperava uma resposta dessas. – Sujeito folgado! – Realmente ela era linda, isso é inegável, agora dizer uma coisa dessas na minha frente desse jeito? – Pediu para apanhar. – Encostando o punho fechado no ombro dele continuei:

- Como assim? Como é que você diz isso com tamanha naturalidade? E na minha frente ainda. – Perguntei ainda incrédulo.

Quando ele ameaçou dizer alguma coisa, a atendente da xerox notando a carteirinha em minha mão aproximou-se da bancada. – Salvo por um triz. Entreguei-a e já saindo resolvi fazer outro comentário:

- É incrível o nível de perfeição dessa moça. – Disse olhando novamente para a mesa.

- Para mim não interessa perfeição nenhuma.

Falou com aquele sorriso típico que já estava incomodando-me bastante. Realmente estava confusa aquela discussão. – Ele deve ser maluco isso sim. – Ele quase fez com que eu lhe desse um soco e agora agia dessa forma? – Bah. – Voltando pelo caminho que anteriormente fizemos disse:

- Você além de folgado deixou-me preocupado agora. – Completei olhando meio de lado.

- Não é nada disso, esqueceu que eu tenho namorada? – Perguntou-me com o mesmo sorriso no rosto.

- Mesmo assim, não é porque está namorando que não pode olhar outras meninas. – Argumentei.

- Não, comigo não.

Dizendo isso ele estava novamente tomando água. – Até parece, quem ele quer enganar? – Que ele estava namorando eu sabia. Agora dizer em um primeiro momento que “já tinha visto ela”, não foi nada agradável, mas posteriormente menosprezar isso foi muito mais estranho. – E como foi. – De qualquer forma foram apenas comentários. Nada muito fora do normal para nossos padrões. – Vocês são loucos. – E quem não é? – Tem razão. – Caminhei tranquilamente para minha sala, com a imagem dela em meu pensamento. Pelo menos agora eu tinha muito mais ânimo para encarar os horários restantes. Não havia aula ou professor que pudesse estraga minha noite.

Lord Marshall

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