quinta-feira, 11 de agosto de 2011

CENA 6


A noite já havia avançado bastante, aquela que brilhava absoluta estava em sua fase cheia, e como o céu não possuía uma nuvem sequer, o local encontrava-se bem iluminado. O ambiente era formado por um imenso planalto a perder-se de vista, apresentava uma vegetação arbórea bem escassa e poucas elevações no terreno coberto por uma relva bastante uniforme.

Em uma das elevações alguém se encontrava a contemplar o horizonte. Esse passava a impressão de estar bem concentrado em algum objetivo que apenas ele deveria ter conhecimento, era uma pessoa alta, tinha o corpo coberto por um espesso manto negro, na cabeça um capuz que tornava impossível ver o menor traço de seu rosto. No angustiante silêncio da noite, quebrado algumas poucas vezes por um fraco vento que soprava rumo ao norte, ele permanecia imóvel.

Eis que de repente uma nova presença começa a surgir no local. Em passos cadenciados esse novo ser dá indícios de caminhar na direção em que se encontra o primeiro. Uma espécie de neblina na cor púrpura parece acompanhar aquele que aos poucos se aproximava. Também coberto por um manto negro, esse se distinguia por carregar uma imensa arma, uma foice decorada em ricos detalhes, e por trazer um ambiente de conflito, desespero e dor, por onde ele passava a vegetação murchava e em poucos segundos aparentava nunca ter tido vida.

- Discreto como uma explosão de cosmos. – Manifestou-se o primeiro.

- Ora Pequeno Príncipe... – Ao começar a responder fora interrompido.

- Tens razão, és a Morte, tudo de que não necessitas é de descrição. Afinal qual seria o seu propósito senão o de despertar os piores medos naqueles para os quais apareces.

- Como de costume, sempre à frente. – Enquanto dizia essas palavras fez uma espécie de reverência para depois continuar – Sabendo ser impossível aproximar-se de ti sem ser notado, não há motivos para que eu tente.

- Esforço desnecessário. – Disse ainda sem se mexer – Posso sentir sua presença onde quer que estejas.

- Não poderia ser de outra maneira Jovem Príncipe, afinal tantos séculos caminhando juntos... – Com a frase sem terminar, aquele que deteve sua caminhada põem-se novamente em movimento.

Confiante em seu movimento antes uniforme tem agora seus passos detidos a poucos metros daquele que almeja, por uma barreira invisível, mostrava-se surpreso ao passo que também dava indícios de já esperar por tal atitude. Com o choque, parte de seu rosto ficou a vista mostrando que havia apenas ossos. Arrumando o capuz sobre o rosto cadavérico, estendeu a mão esquelética até a barreira, esta respondia a proximidade do ser e tornava-se visível quando por ele tocada. Se a Morte tivesse uma face poderia ser dito que ela esboçara algo como um sorriso.

- Novamente devo dizer que não perdeste o costume.

- O que desejas Morte? – Indagou dando a entender que não desejava continuar o assunto.

- Ver-te é claro. – Respondeu com extrema rapidez – Por ser um valoroso companheiro, senti sua ausência durante esses anos. Resolveu aposentar-se?

- Nunca foste um companheiro. – Disse ignorando a pergunta.

- Não me consideras? – Perguntou fazendo questão de demonstrar surpresa e imitar quem o ouvia. – Através da busca de sua derrota muitos tentaram alcançar a glória, valorosos guerreiros caíram frente a ti. Buscando incansavelmente esse objetivo só puderam no final encontrar a mim, devo agradecer-te por isso.

- Não há glória em tal ato. – Sua voz saiu quase como um sussurro.

- Como não? – Levantou a voz – Não percebes? Derrotar-te seria alcançar a glória eterna. – Disse levantando a cabeça e abrindo os braços. – O dono de tal feito seria reconhecido e exaltado para todo o sempre. – Após o término da frase o som das palavras deu lugar a uma gargalhada diabólica, lançando um terrível olhar continuou. – E com isso me daria o maior dos presentes.

- O que realmente desejas? – Perguntou com um tom de voz mais ríspido. – Vieste tentar o que tantos outros não conseguiram? – Como se a desafiasse perguntou virando-se pela primeira vez.

- Não Pequeno Príncipe, não me entenda mal. Não foi esse o meu objetivo. Julgo não ter expressado corretamente minhas verdadeiras intenções. O motivo de minha visita não é outro senão de cortesia.

Pela primeira vez em toda a conversa a Morte agora ficara apreensiva, finalmente tinha conseguido a total atenção daquele a quem se dirigia, mas definitivamente não esperava de forma alguma por essa reação. Talvez a distância e o tempo fizeram com que o seu julgamento da possível situação fosse prejudicado.

- Peço-te desculpas pelo meu comportamento Jovem Príncipe. Confesso que me exaltei e com isso acabei lhe atrapalhando, tal ato não voltará a ocorrer. Com sua licença. – Terminando seus dizeres começa a se afastar.

A Morte que se afastara um pouco faz uma breve reverência antes de dar as costas para o homem que não mais olhava em sua direção. Sabia bem que jamais deveria se indispor com aquele que antes a encarava. Afinal alguém que deixava até mesmo os Deuses preocupados merecia o total respeito de todos, ainda mais daquela que por diversos motivos sempre o acompanhou.

Lord Marshall

segunda-feira, 27 de junho de 2011

CENA 5


O que está acontecendo comigo? O que é essa dor que teima em não passar? Esse frio na barriga? Esse nó na garganta? Por que minhas mãos agora estão sempre frias? Por que meu coração acelera quando penso nela? Por que a vejo em todo lugar e a todo o momento? Com essas indagações em mente, só conseguia enxergar um caminho.

Tendo finalmente decidido conversar com ela e dizer tudo que realmente sinto, fui ao seu encontro. Aquela situação já estava deixando-me louco, há algum tempo que não tinha sequer um segundo de paz, somava-se a isso o fato de não conseguir mais concentrar-me em coisa alguma. Independente do que viesse a acontecer no futuro, decidi que não cometeria novamente o mesmo erro.

- “Antes gritar ao mundo o que está acontecendo e perder pela tentativa, do que esconder-se e viver para sempre com a vergonha de não ter ao menos tentado”.

Não pensei mais de uma vez, com a decisão já tomada, não era necessário. Focado em meu destino, em momento algum o caminho sequer despertou minha atenção. Andando sem desviar-me do que havia traçado, minha mente povoava-se de pensamentos nos quais apenas nós dois nos encontrávamos. Lembrando-me dos poucos momentos vividos ao seu lado, meu coração acelerava cada vez mais.

Estando a poucos metros do portão que me separava dela, parei. A insegurança e a incerteza tomavam conta de mim. Será que isso realmente deveria ser feito? O que o destino havia reservado a mim naquela noite, era o que mais queria saber. Minha cabeça que por pouco não tinha entrado em estado de ebulição devido a grande quantidade de pensamentos, agora ecoava um único. Resolvendo novamente que iria prosseguir, caminhei até estar próximo do portão.

- “Meu coração irá saltar pela boca”. – Pensei – “O que ela terá a dizer sobre essa situação, sore minha confissão?” – Minha incerteza era algo notável.

Erguendo meu braço direito, levei os dedos ao encontro da palma da mão. Com o punho fechado decidi que bateria naquele frio metal, chamando assim sua atenção. Com a mão frente ao queixo, por alguns momentos meus olhos pareciam deixar de focar meu destino. Senti que estava sendo levado dali por algo que não sei explicar o que era. Em um lugar escuro milhões de coisas aconteciam ao mesmo tempo: flashes, imagens, frases, palavras soltas… Enfim, lembranças que julguei ser dos últimos acontecimentos. Vi tudo passar de uma maneira absolutamente incrível.

A poucos metros de onde estava um barulho de ônibus trazia-me de volta a realidade, meio deslocado pensei ter acordado de um sonho. Minha mão que esperava um simples comando continuava no ar. Tomando parte do que acabara de acontecer, pensei ter corrido uns poucos segundos, ao olhar no relógio, para minha surpresa ele dizia que exatos trinta minutos haviam se passado. Abaixei a cabeça ficando no mais absoluto silêncio, senti que até mesmo minha respiração abrandava.

Com a cabeça ainda abaixada uma lágrima desprendeu-se de um dos olhos, percorrendo meu rosto foi de encontro ao cimento frio. Ao passo que minha mão desceu, meu corpo voltou-se a um dos sentidos originais da calçada, não voltei a olhar novamente o portão que nos separava. Em movimentos que ainda considero involuntários, coloquei-me a caminhar.

- “Foi necessário vir até aqui para entender, não era algo que um dia eu pudesse possuir. Havia apenas tentando me enganar, mais uma vez”.

Mesmo não podendo ver, sei que por detrás da cortina da janela, ela estava o tempo todo me olhando. A cada segundo que passava, eu me encontrava cada vez mais distante daquilo que tanto almejava. Seguindo em frente, deixava para trás mais um sonho, juntamente com alguém que agora também chorava.

Lord Marshall

quinta-feira, 26 de maio de 2011

CENA 4


Como é possível que alguém continue cultuando uma pessoa que já não está entre nós? Tudo bem que ele pode ter representado algo a ela enquanto vivo, mas agora não pode lhe oferecer mais nada. Não importa o que eles viveram, o que importa realmente é o presente e nesse presente o casalzinho de conto de fadas, já não existe mais. Mas o que para alguns não faz o menor sentido, para outros acaba sendo impossível desgarrar-se da eterna lembrança.

- E o que isso tem de mais? – Perguntou a garota.

- Isso. Talvez esta seja a resposta, “de mais”. Sua obsessão chegou a ser “de mais”. Loucura “de mais”...

- Você sabe que isso não é verdade. – Disse a jovem interrompendo.

- Como não? – Perguntei em um tom mais elevado. – Mesmo depois de anos você continua tendo fotos dele no Orkut. Você vive presa a um passado que jamais retornará.

- Também não precisa falar assim. – Seus olhos marejaram.

- Preciso sim. Você desistiu de viver, parou no tempo. – Disse abaixando o tom de voz.

- Sim claro. Você tem todo o direito de cobrar isso de alguém. – Seu tom de ironia era bastante visível. – Não é mesmo?

- São casos completamente diferentes. – Respondi.

- Lógico que são. Eu tive motivos, vi meu mundo desmoronar em uma idade onde somente a sua construção deveria existir. Não fui um covarde que se absteve de viver por puro medo.

 - ... – Por alguns instantes não consegui esboçar qualquer reação. Pouco depois sem encará-la disse – Não desvie o assunto, não é sobre mim a discussão aqui.

- Por que se esconde? Você...

- Já disse. – Interrompi – Essa conversa não é sobre mim. Estou tentando entender você e não me confessando. – Encerrei assim qualquer tentativa de continuar o assunto.

- É tão complicado assim? – Perguntou com um tom mais brando parecendo voltar ao antigo assunto – Isso é algo que se sente, vive junto com você, está dentro do peito. Não é uma coisa que se explique.

- Então pela tentativa de se continuar vivendo algo, sem uma explicação lógica, que já não existe você simplesmente abre mão de todo o resto? Prefere agarrar-se a uma lembrança?

- Você não entende. É um sentimento muito forte. Ele significa muito para mim e o que sinto por ele é algo que está bem vivo.

- Vejo que mesmo a depressão e a terapia não te ajudaram em nada. – Conclui demonstrando certa irritação.

- Aí que você se engana. Pois foi com isso que pude recobrar a consciência, aceitar não, mas talvez entender um pouco e ter forças para tentar voltar a viver. – Concluiu segurando as lágrimas.

- O que está no passado, mas não no presente, é porque não valeu à pena e não merece sequer ser lembrado. – Disse sem olhar para aquela que limpava uma lágrima.

- Não tem o direito de falar sobre isso. – Disse em um tom autoritário – Uma pessoa que não consegue entender as sutilezas desse sentimento, jamais deve julgar outro alguém.
              
- Sabe de uma coisa? – Perguntei voltando a encará-la desde minha última frase.

- O que é? – Respondeu me desafiando.

- Essa devoção cega por seu namorado morto é algo irracional, sem sentido e... – Por um momento virei o rosto tentando não completar a frase, mas voltando a encará-la continuei – ... idiota.

- Como pode dizer isso? – Perguntou ela deixando todo o sentimento reprimido tomar o controle. – Você... – Faz uma pausa e mesmo visivelmente abatida continua – Você que é um idiota. – Gritava enquanto lágrimas percorriam sua face.

- Mas... – Todo sem jeito e completamente desarmado procurava um meio de continuar – É... algo assim que... que eu sempre procurei nas pessoas. – Gaguejei para dizer o que estava preso em mim.

Segundos após a frase repicada e um pouco de espanto, ela me abraçou. Como é possível que alguém continue cultuando uma pessoa que já não está entre nós? Simplesmente pelo fato disso representar algo para quem esta pessoa é importante. Momentos vividos tornam-se lembranças para a vida toda, o que de certa forma nos preenche. Estando em constante construção e mudança, nós crescemos e evoluímos a partir da vivência com tudo que está ao nosso redor. Porém são nossas lembranças e o modo como vivemos que nos define e nos distingue na multidão.
Lord Marshall

domingo, 22 de maio de 2011

CENA 3


Andando pela faculdade lembrei-me de que fora incumbido de uma importante missão, “plastificar a carteira do transporte escolar da minha irmã.” – Que coisa não? – Pois é. – Por que ela mesma não faz isso? – Também gostaria de saber. Mas por outro lado, isso também serviria de pretexto para que eu fosse ao centro de convivência. – Na cantina e/ou xerox, você quer dizer. – Sim, o lugar também atende por esses nomes. – Pois bem, continue. – Apenas a possibilidade de talvez vê-la animava-me bastante. Chamei então um colega que por ali estava:

- Vamos ao centro de convivência comigo, preciso deixar a carteirinha da minha irmã para que seja plastificada.

- Tudo bem, mas teremos de passar pelo bloco do Direito, vou aproveitar para beber água.

- Também havia pensado nisso.

Com a reforma de alguns blocos não sobraram muitas opções para bebedouro, apenas o bloco de Direito e a biblioteca. – Digamos que só as piores. – Os outros eram bem distantes. Enfrentávamos agora um impasse, já que os lugares que frequentávamos, há dois anos, estavam temporariamente indisponíveis. – Mas até que o bloco de Direito é legal. – Talvez, mas as pessoas que ali estudam são muito frescas. Um tempo pensando nisso e fui chamado de volta à realidade, um senhor havia entrado na minha frente e por pouco não me jogou contra a parede. – Com toda a certeza educação não constava na grade horária dele.

- Que é isso rapaz? Atropelado por um tiozinho? – Disse meu colega sorrindo.

- Pois é.

- Mas também ao invés de beber água você fica viajando, não temos a noite toda. – Disse novamente sorrindo.

- Tudo bem, da próxima vez eu peço desculpas. – Depois de alguns passos concluí – É sério, se não fosse pelas meninas do Direito eu nem passava perto desse pavilhão.

- Só você mesmo. – Dizia enquanto balançava negativamente a cabeça.

No resto do caminho fiquei em silêncio, como se estivesse procurando, e uma vez ou outra ouvia uma frase sobre as aulas dele. – Que na verdade nem ao menos deu importância. – Estava ocupado. – Sei. – Chegando ao nosso destino notei que a xerox estava cheia, bem cheia, desanimei.

- Parece que está um pouco cheio, não acha?

- Sério? – Respondi. – Se não dissesse jamais descobriria.

Não era apenas a xerox, todas as mesas estavam ocupadas também. – Vai me dizer que estava preocupado com as mesas. – Lógico que não, para mim só importava uma coisa, encontrá-la no meio daquela multidão. Como de costume não tive que procurar muito, ela estava sentada juntamente com outras três amigas da mesma cidade. – É incrível a facilidade que você tem quanto a isso. – Quando procuro por alguém não importa a multidão, se ela ali está, com toda a certeza eu a encontrarei.

- Você não vai pedir para plastificar a carteirinha? – Indagou meu colega.

- Eu pegar fila? Prefiro entregá-la do jeito que peguei. – Respondi sem desviar o olhar.

- Então vamos sair daqui. Ficar parado nesse local é algo idiota.

- Mas eu tinha que plastificar isso. – Foi o que encontrei para dizer naquele momento.

Meu colega até que poderia estar certo, mas onde estávamos era praticamente de frente para a mesa dela, a visão era perfeita. – Você ficou como um bobo parado ali. – A verdade é que eu não sabia o que fazer perante tamanha beleza. Entre enfrentar uma fila enorme e ficar admirando uma beleza sem igual, acho que a resposta seria bem óbvia. – Claro, se ele soubesse suas reais intenções. – Se Deus realmente cria-nos um a um, com absoluta certeza ele investiu bem mais tempo para criá-la, retoques perfeitos.

- E então? Decidiu o que vai fazer? – Novamente meu colega me tirava de meus devaneios.

- Rapaz. – Disse decidindo mostrá-la a ele e me aproximando da xerox. – Olha aquela moça ali na frente, a de blusa rosa, ela é muito linda.

- Já tinha visto ela.

Por alguns segundos fiquei sem reação. – Como assim já tinha visto ela? – Jamais esperava uma resposta dessas. – Sujeito folgado! – Realmente ela era linda, isso é inegável, agora dizer uma coisa dessas na minha frente desse jeito? – Pediu para apanhar. – Encostando o punho fechado no ombro dele continuei:

- Como assim? Como é que você diz isso com tamanha naturalidade? E na minha frente ainda. – Perguntei ainda incrédulo.

Quando ele ameaçou dizer alguma coisa, a atendente da xerox notando a carteirinha em minha mão aproximou-se da bancada. – Salvo por um triz. Entreguei-a e já saindo resolvi fazer outro comentário:

- É incrível o nível de perfeição dessa moça. – Disse olhando novamente para a mesa.

- Para mim não interessa perfeição nenhuma.

Falou com aquele sorriso típico que já estava incomodando-me bastante. Realmente estava confusa aquela discussão. – Ele deve ser maluco isso sim. – Ele quase fez com que eu lhe desse um soco e agora agia dessa forma? – Bah. – Voltando pelo caminho que anteriormente fizemos disse:

- Você além de folgado deixou-me preocupado agora. – Completei olhando meio de lado.

- Não é nada disso, esqueceu que eu tenho namorada? – Perguntou-me com o mesmo sorriso no rosto.

- Mesmo assim, não é porque está namorando que não pode olhar outras meninas. – Argumentei.

- Não, comigo não.

Dizendo isso ele estava novamente tomando água. – Até parece, quem ele quer enganar? – Que ele estava namorando eu sabia. Agora dizer em um primeiro momento que “já tinha visto ela”, não foi nada agradável, mas posteriormente menosprezar isso foi muito mais estranho. – E como foi. – De qualquer forma foram apenas comentários. Nada muito fora do normal para nossos padrões. – Vocês são loucos. – E quem não é? – Tem razão. – Caminhei tranquilamente para minha sala, com a imagem dela em meu pensamento. Pelo menos agora eu tinha muito mais ânimo para encarar os horários restantes. Não havia aula ou professor que pudesse estraga minha noite.

Lord Marshall

quarta-feira, 11 de maio de 2011

CENA 2


Grécia – Cidade de Atenas - Santuário

O caos e o desespero tomavam conta de todo o lugar. O Santuário, lar de Atena na terra, estava em guerra. Lord Marshall o Cavaleiro de Ouro de Câncer tornara o lugar um campo de batalha, destruição por toda parte era o que se via. Seguindo as regras resolveu subir as doze casas do zodíaco, porém, frente a essa traição companheiros de confraria buscaram enfrentá-lo o quanto antes. Uma fina chuva caía sobre o Santuário manchado de sangue, três pessoas se encontravam nas dependências da Casa de Áries.

- O que está acontecendo aqui? – Se perguntava a jovem Amazona de Sagitário que estando de joelhos chorava.

- Não é óbvio garota? – Retrucava o Cavaleiro de Ouro de Peixes – Esse maldito traidor finalmente resolveu apresentar-se.

- Não deveríamos todos proteger Atena? – Grita a Amazona – Então por que isso está acontecendo?

- Você ainda é muito nova. Recebendo a sagrada armadura há pouco, realmente não teria como entender algumas coisas. – Dizendo isso fixava o olhar naquele que estava no centro do pátio. – Alguns não conseguem seguir com suas obrigações, deixam que suas ambições subam a cabeça e acabam por se perderem.

Com sua habitual vestimenta preta, o homem no centro do pátio parecia estar alheio a toda a conversa dos outros dois que o circundavam.

- Esse maldito nem se dá ao trabalho de vir a nosso encontro vestindo sua armadura, você nos subestima de mais traidor. – Bradava o Cavaleiro de Peixes. – Irei lhe mostrar a força de um verdadeiro Cavaleiro de Ouro.

O defensor da décima segunda casa partia para o ataque em alta velocidade, com o punho carregado de cosmo preparava-se para desferir o golpe naquele que ainda não havia se movimentado. Para surpresa dos dois ali presentes, o Cavaleio de Peixes passa pelo seu alvo como se ele não existisse. Apoiando-se no chão após o golpe frustrado, sua raiva só aumentava.

- Malditas ilusões. Por que não luta como um homem de verdade?

Novamente partia para o ataque e mais uma vez o resultado era o mesmo, apesar de sentir a presença de seu inimigo, um corpo físico não existia ali. Em um piscar de olhos a sombra se desfaz e volta a aparecer bem próximo do homem que o atacava.

- Com este estado de nervos deveras alterado pela morte de sua amada, tu és quem subestimas a mim, Alzhared.

Com uma voz que parecia vir de outra dimensão, aquele antes imóvel estende sua mão em direção ao peitoral da armadura de Ouro de Peixes. Uma pequena esfera de energia negra gera uma grande explosão lançando o cavaleiro de encontro a uma coluna, que faz com que esta seja destruída.

A Amazona de Ouro que apenas observa a cena, vendo seu companheiro chocar-se com força contra o solo e ficar inerte, fica ainda com mais medo. Ela não conseguia se controlar, apesar de ter se tornado uma defensora de Atena, jamais imaginaria que em uma guerra a pressão fosse tão grande. Inúmeras dúvidas surgiam em sua mente, de repente ela é chamada de volta a realidade pelo calmo caminhar daquela sombra que agora tomava a sua direção.

- Não se aproxime de mim, monstro. Suma daqui e deixe-nos em paz. – Suplicava a jovem visivelmente abalada.

Lord Marshall que havia voltado sua atenção a jovem, a tem novamente roubada por um cheiro de rosas que se espalhava pelo ambiente. Alzhared levanta-se tendo o peitoral da sagrada Armadura de Peixes trincada, sangue escorria no canto de sua boca e o que mais chamava a atenção era um sorriso em seu rosto.

- O que achas do perfume de minhas rosas? Será o último aroma que sentirá em vida. – Tendo dito isso o Cavaleiro de Peixes começa a aumentar o seu cosmo – Mas não serei piedoso, minhas rosas irão destroçá-lo.

- Atitude desesperada e inútil. – É a resposta que tivera do homem a sua frente que agora andava a seu encontro.

- Pagarás por tudo, maldito traidor. ROSAS PIRANHAS (PIRANIAN ROSE).

Milhares de rosas negras vão de encontro ao inimigo destruindo tudo em seu caminho, seus espinhos afiados como dentes das piranhas destroem parte do chão entre os dois. Lord Marshall apenas observava o ataque e em um rápido movimento ergue o braço esquerdo criando uma defesa intransponível. Todas as rosas vão sendo destruídas ao chocarem-se contra a barreira criada. O defensor do décimo segundo templo fica perplexo ao ver que seu ataque sequer arranhou a superfície da barreira criada pelo seu inimigo.

- Já havia dito, atitude desesperada de inútil. – Disse o cavaleiro da quarta casa.

- Hm. Como o esperado de alguém como você. – Enquanto falava assumia uma postura mais calma e concentrava seu cosmo. – Mas não pense que desistirei.

- O que  está ocorrendo aqui é totalmente desnecessário, Alzhared. Se preza por sua vida, não fique em meu caminho. – Ao terminar seus dizeres dava as costas .

Novamente o perfume de rosas espalhava-se pelo local. O chão próximo ao Cavaleiro de Peixes começa a ser coberto por rosas vermelhas, estas vão espalhando-se por todo o pátio, menos onde encontra-se a Amazona de Sagitário que está protegida por caules de roseira.
                                                                                              
- Sua barreira não o protejerá disso. Mesmo você não tendo a morte que eu desejei, me contento em lhe oferecer o sono eterno da morte através desse maravilhoso aroma. ROSAS DIABÓLICAS REAIS (ROYAL DEMON ROSE).

Ataque lançado utilizando rosas vermelhas, apenas um arranhão de seus espinhos ou o seu aroma já é o bastante para o veneno fluir no adversário. Essas rosas altamente venenosas fazem com que o inimigo vá perdendo lentamente seus cinco sentidos o levando a morte. Após Alzhared lançar seu ataque, além das inúmeras rosas lançadas, as que cobriam o chão lançam seus esporos na direção do inimigo. Para nova surpresa do Cavaleiro de Peixes seu inimigo permanece imovél, mas as flores ao seu redor começam a murchar e logo apodrecem.

- A morte que está ao meu redor é maior que a vida que consegues criar. Como havias notado não estou de corpo presente, portanto, o aroma das rosas de nada valem.

Pouco a pouco as rosas, antes de um vermelho vivo, vão agora apodrecendo uma a após a outra. Seu criador está perplexo e com um olhar perdido não nota o movimento do inimigo. Estando com a palma da mão direcionada a aquele que parece ter abandonado a luta, desiste de prosseguir.

- Desnecessário. – Disse abaixando a mão – Perdeste a vontade de lutar, não poderei dar-te o mesmo destino de sua amada.

- “Não consigo acreditar, meus ataques de nada valem.” – Pensava consigo mesmo – “Perdoe-me Atena, não fui forte o suficiente. Desculpe-me minha querida, não poderei vingá-la, mas em breve estarei junto a ti.”

Como todas as flores viraram cinzas, juntamente com os caules que protegiam a Amazona de Ouro, o lugar onde estavam mostrava-se agora um ambiente fúnebre. A sombra do homem que não havia sido ferido aproxima-se do Cavaleiro de Peixes.

- Serei piedoso, darei a ti o descanso eterno. Providenciarei para que seu espírito seja jogado diretamente no poço das almas na colina do Yomotsu Hirasaka.

Uma luz arroxeada surge na ponta de seu dedo indicador, e encostando o dedo na fronte de Alzhared dispara seu ataque.

- ONDAS DO INFERNO (SEIKISHIKI MEIKAI HA).

O corpo inerte do Cavaleiro de Peixes tomba ao chão. O Cavaleiro de Câncer vira-se para a jovem Amazona que não encontrando forças para lutar, ou ao menos levantar-se e correr, arrastava-se pelo chão molhado da chuva fina que não parava de cair. Ao apoiar as costas em uma pilastra caída, tudo parecia chegar ao seu fim, agora o que restava era esperar que seu algoz fosse piedoso e lhe desse uma morte rápida. A sombra que não detivera seu caminho para a alguns passos da jovem, esta não demonstrava mais ter forças nem ao menos para chorar. A pobre vítima encurralada sentia apenas um enorme desprezo vindo daquele que a encarava.

- Meninas não deveriam caminhar, onde apenas os homens devem ir.

Com essas palavras Lord Marshall dá as costas para a Amazona de Sagitário, seguindo rumo à escadaria que o levaria a Touro, deixando-a sozinha com seu sentimento de inferioridade e inutilidade.

Lord Marshall

sábado, 7 de maio de 2011

CENA 1


- Não se importa com o que pode vir a acontecer com essas pessoas? – Indagou aquela que agora detinha sua passagem.

- Inútil. – Respondeu com extrema calma.

- Como? O que é inútil? – indagou novamente levantando a voz e mostrando-se bastante confusa com a situação.

- Seu argumento.

- Por quê? Vidas humanas não lhe representam nada? – Sua postura agora se tornara mais autoritária.

O silêncio começava a tomar conta da sala. Ela esperava uma resposta enquanto ele desviando o olhar permanecia imóvel. Segundos que mais pareciam horas se passaram, e em um movimento põem-se a caminhar na direção contrária daquela que o aguardava manifestar-se. Estando a uma distância que ela julgara ser de no máximos três metros ele para.

- Sabes muito bem que ao aceitar a imortalidade eu desisti dos seres humanos.

Sua voz desprovida de qualquer sentimento fez-se lâmina no peito da jovem que agora caía de joelhos. A decisão antes tomada não poderia mais ter outra direção, ele estava decidido e agora ela deveria aceitar essa condição. Erguendo a cabeça conseguiu vê-lo passar por ela como se não fosse nada. Quase no fim do corredor a voz da garota o faz parar.

- Irei perguntar pela última vez. Você pret... – É interrompida bruscamente pelo homem que volta a encará-la.

- Última vez? – Se aproxima – Assim é melhor, antes uma tentativa de se impor do que uma cena ridícula.

- Continuando. Você pretende manter-se firme em sua escolha?

Aquele que a encarava se aproxima mais, ele parecia olhar diretamente para a alma daquela a sua frente.

- Não existe retorno após ter sido feita uma escolha. – Implacável em sua resposta continua – Uma posição deve ser sustentada até o fim, independente das circunstâncias. – Dando as costas sai novamente em direção ao corredor.

- Espere! – Um grito cheio de emoção consegue escapar – Você sabe o que isso significa não sabe? – Tinha no rosto um olhar que denunciava uma mistura de sentimentos.

Em resposta somente um olhar de desprezo por cima do ombro.

- Responda-me! Olhe para mim, não fuja. – Bradava enquanto lágrimas percorriam seu rosto.

- De agora em diante seremos inimigos mortais. Você irá caçar-me enquanto houver forças em seu corpo, irá empregar cada gota de vida em destruir a mim e aos outros de minha raça. E mesmo com suas patéticas alianças, é mais do que certo que no final você falhará miseravelmente.

Com o término das palavras põem-se a caminhar sumindo no escuro corredor, deixando para trás aquela que não consegue aceitar o que o destino os reservou.

Lord Marshall

Postagem de Cenas


Mudando um pouco os hábitos, resolvemos começar a postar “Cenas”. Isso mesmo, “Cenas”. Pequenos textos escritos por nós que não podem ser classificados como: fics, contos, poemas, one-shots e afins... são apenas “Cenas”. Sobre o quê? Você perguntaria. Sobre qualquer coisa, seria a resposta. Faço disso uma forma de tentar estar sempre escrevendo, já que projetos megalomaníacos tendem a acabar arquivados nos confins daquelas pastas que você quase nunca voltará a abrir, vamos então atrás dos mais simples. Com textos mais simples e menores deixando a cargo do leitor criar o mundo por trás do trecho de história que é contado.

Lord Marshall